eu a gemer de dores.
- faça força
- grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
- mais força... só quando for uma contracção...
- grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
- não... não... só quando for uma contracção...
mas eu não sei o que é uma contracção, a minha dor era constante, tentei explicar mas eu acho que naquela altura me julgavam uma histérica, apesar de eu nem tugir nem mugir.
eu só gemia.
muito baixinho, para não incomodar (tenho esta mania absurda de nunca querer incomodar).
e assim passavam as horas e nada.
criança ainda muito em cima.
dilatação pouca.
e o maldito clíster a fazer efeito de cada vez que eu fazia força.
e como se isso não bastasse estava para vir o momento "MASSA"!
com tantas dores comecei a ficar mal disposta.
a sentir náuseas.
a transpirar.
eu sabia que ía vomitar.
eu tentei avisar.
mas ninguém quis ouvir.
- ai amooooooooooooor não sujes os lençóis que acabei de os mudaaaaaaaaaaar
- eu estou mal disposta... eu vouuuuuuuuuu voooooooooomitar
- espera aí... espera...
( eu agarrada pela auxiliar que tentava desesperadamente salvar os lençóis começo a ter vómitos)
- ela vai vomitar...
- ai...
bruuuuuuuuuulp
( eu não vomito com classe, nisso sou do mais brega que existe, vomitei pouco na vida, mas quando vomito "rodo a baiana", sai tudo às golfadas)
bem em cima da auxiliar, que gritava e me sacudia e me agarrava e me limpava...
(comentários na sala)
- ah comeu massa!
- não comi não, nãooooooooo cooooooooomiiiiiiiiiii nãooooooooooo!!!!!
-ai comeste comeste estamos todos a ver que sim!!!
(todos: auxiliar, G., irmã, para aí 3 estagiários, obstetra, outra auxiliar, sra enfermeira)
- não comi
- comeste
- nãoooooooooooo
(de repente lembro-me que sim, que realmente comi um resto de ontem, na minha outra vida)
- desculpem-me comiiiiiiiiiiii, é verdade que comiiiiiiiiiiiiii!
(sempre fui assim demasiado honesta, até num momento muito estúpido)
- e tinhaaaaaaaa cogumelos!!!
- vês?
já não via nada.
já era demais.
a R. já estava a sofrer na minha barriga.
a obstetra decidiu que o melhor seria um parto com ferros.
e eu tive que subir ou descer (ainda hoje o G. me disse para onde me levaram e eu não tenho noção) para ir para uma sala de partos diferente.
o G. já não me pode acompanhar, ficou do lado de fora (pelo menos estava logo ali).
a minha irmã esteve sempre comigo (é a pediatra da R. e trabalha na maternidade pelo que podia assistir).
dos 3 estagiários, 1 pode assistir (tiraram à sorte, conforme o G. me contou), para eles era um momento muito interessante para sua formação.
o meu parto foi muito complicado e doloroso.
a R. teve que ser tirada com os ferros (umas coisas gigantes com aspecto aterrorizador)
a dor durou até a tirarem.
depois foi um alívio tão grande.
passou tudo.
a R. nasceu no dia 25 às 00:52 (durante algum tempo fez-me imensa confusão e confundia o dia do seu nascimento, achando sempre que tinha sido no dia 24)
só vi a R. de esguelha.
o G., a F. (minha sobrinha que conseguiu entrar para dentro da maternidade) e a minha irmã foram os primeiros a vê-la e a pegar-lhe.
depois de ser cosida e tratada, puseram a R. entre as minhas pernas embrulhada numa mantinha e levaram-nos para o recobro.
deixaram-me sozinha num corredor e levaram-na para o berçário.
deram-me uma sandes e um pacote de leite.
descansei um bocadinho.
e comecei a ouvir chorar um bébé.
era a R.
troxeram-na para junto de mim.
calou-se e adormeceu.
só lhe conseguia ver a ponta do nariz e a testa.
tinha medo de lhe mexer, estava quentinha e tão quietinha.
só no outro dia a vi toda.
e assim começou a minha maior aventura.